Proporcionar alimentação suficiente às crianças era o problema geral para os pais entre os "estratos inferiores" até o século XIX. Mantê-las aquecidas era mais um desafio. Durante mais ou menos o primeiro mês de suas vidas, na Europa e nos Estados Unidos, as crianças eram amarradas firmemente com faixas de tecido sobre suas roupas, sendo que as técnicas utilizadas variavam segundo a região. Na Itália, o costume era amarrá-las de forma justa, como uma múmia egípcia, ao passo que, na França, Alemanha e Inglaterra, as mães simplesmente passavam a faixa duas ou três vezes em torno do corpo. Em toda parte, os bebês eram amarrados com os braços presos próximos à lateral do corpo e as pernas estendidas juntas, com suporte adicional para manter a cabeça firme. Em uma etapa posterior, braços e cabeça eram deixados livres até que, após alguns meses, estivessem prontos para um casaquinho usado por meninos e meninas. A opinião médica foi aos poucos se tornando hostil à prática de enfaixar as crianças durante os séculos XVII e XVIII. Os críticos afirmavam que a prática restringia a liberdade dos membros jovens, arriscava impedir a respiração da criança e a deixava enrolada em suas próprias urina e fezes por longos períodos. Considerava também que pendurar uma criança enfaixada em um gancho por longos períodos era o máximo de negligência. Rosseau, por exemplo, foi severo: em Emílio (1762), ele afirmou que: "os lugares em que se enfaixam as crianças estão cheios de corcundas, de mancos, de cambaios, de raquíticos, de pessoas deformadas de todo o tipo". Mesmo assim os observadores tendiam a reconhecer que, além de manter as crianças aquecidas, essas faixas tornavam carregá-las mais fácil, e ajudavam a protegê-las de mordidas de animais domésticos, especialmente os porcos. Os camponeses acreditavam que essas tiras, junto com berços estreitos, ajudavam a criança a desenvolver ossos fortes e uma postura ereta. Eles também consideravam que isso ajudava a distinguir a criança de um animal, impedindo-a de andar de quatro patas. Enfaixar as crianças era uma tarefa complexa e demorada, especialmente se realizada três, quatro ou mesmo sete vezes por dia, depois de amamentá-la, mas também, talvez, satisfatória. A parteira Jane Sharp aconselhava, em 1671, que se deveria tratar as crianças "de forma muito suave, lavar o corpo com vinho morno e, quando estivesse seca, enrolá-la com panos macios e deitá-la no berço". O costume desapareceu gradualmente no século XVIII, sob a crítica da opinião educada, embora tenha se arrastado até o século XX em regiões remotas.
Pierre-Jakez Hélias registrou que, na Bretanha, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, passava várias horas sozinho todos os dias, envolto em faixas apertadas em seu berço com grades, enquanto seus pais e seu avô estavam fora trabalhando.
Os pais não estavam particularmente preocupados com a limpeza durante grande parte do passado, assim como os médicos, até o século XVIII. Autores medievais recomendavam banhos freqüentes, mas é de se duvidar que seu conselho fosse seguido muito além de um círculo restrito de moradores abastados das cidades. A sujeira, na verdade, cumpria papel protetor simbólico na crença popular. As mães acreditavam que era melhor secar as fraldas do que lavá-las, em função dos poderes curativos da urina. Pensavam também que uma camada de sujeira sobre a cabeça preservava a moleira. No Haut-Vivarais, para tomar apenas um exemplo entre muitos, as pessoas acreditavam que lavar a cabeça de uma criança a tornaria simplória; e que cortar as unhas e o cabelo antes de um ano e um dia de idade faria com que ela se tornasse, respectivamente, muda e ladra. Elas também não tinham pressa alguma de começara a ensinar o uso do banheiro. Mais uma vez, não importa o quanto tais crenças e práticas parecessem bizarras a partir de uma perspectiva atual, elas demonstram um esforço permanente para aprimorar a saúde e a felicidade da criança, antes de indicar negligência dos pais.
HEYWOOD, Colin. Uma História da Infância.